Camila: Meu sonho era ser veterinária


05/08/2024

(Foto Divulgação)

FIFA • Barueri - SP

Camila fala sobre sua criação na fazenda, sua forma excepcional, as melhores jogadoras do esporte e as esperanças do Brasil para a primeira Copa do Mundo Feminina de Futsal da FIFA.


Camila foi excepcional quando Stein conquistou o recente título da Copa Libertadores

Ela discute as esperanças do Brasil para a primeira Copa do Mundo Feminina de Futsal da FIFA

Camila elogia Bianca, Emilly, Janice, Julia, Luana e Peque

“Eu era um terror enquanto crescia”, admite Camila Costa da Silva. Ela, na fazenda em que morava, entrava furtivamente nos estábulos e, sem arreios ou selas, montava em seus amados cavalos e desfrutava de um passeio.

 

Sua mãe voltaria de jogar 11 de cada lado pelo time de futebol da propriedade e daria uma bronca em Camila, mas não adiantou. Aos 31 anos, Camila ainda é um terror certificado. Agora, porém, é para times adversários nas quadras de futsal.

 

O nativo de Ubirata estava impossível de jogar, já que Stein Cascavel terminou junho conquistando a Copa Mundo do Futsal – um torneio com 12 times de seis países – e julho conquistando títulos consecutivos da Copa Libertadores. Ela terminou como MVP em ambas e como artilheira na última.

 

Uma das jogadoras mais multifuncionais do planeta, Camila conversa com a FIFA sobre o desejo de ser veterinária, sua forma excepcional, a primeira Copa do Mundo de Futsal da FIFA™ e as melhores jogadoras do esporte.

 

FIFA: Como você entrou no futsal?

 

Camila: Sou de uma fazenda no meio do nada. Eu não tinha acesso a escolas de futebol. Brinquei de bola na fazenda com meus primos, meus tios, meus pais, meu irmão e minha irmã. Confesso que, durante muito tempo da minha vida, não fazia ideia do tamanho do futsal. Eu não sabia muito sobre isso. Comecei a jogar na escola e gostei muito, mas jogar pela seleção brasileira nunca foi um sonho enquanto crescia. Estava além da realidade para mim. Eu percebi o quão grande é o futsal quando eu tinha cerca de 22 anos. Julia, que é minha companheira de equipe e companheira de vida, me fez querer estudar e entender o esporte. Ela entendia a disciplina, suas complexidades, tinha experiência de jogar na Liga Nacional e na Seleção Brasileira. Ela foi uma grande inspiração para mim.

 

Qual era o seu sonho de infância?

 

Eu queria ser veterinária (risos). Talvez porque eu era uma garota de uma fazenda. Sempre gostei de estar perto de cavalos, ovelhas, bois, cachorros. Minhas duas fontes de alegria enquanto crescia eram chutar bola e ir ao pasto com meu avô ver os bois, acordar cedo para ordenhar as vacas. Eu simplesmente adorava animais. Eu era um terror. Eu estava sempre montando nos cavalos sem arreio nem sela! (risos) Eu sonhava em me tornar veterinário. Minha educação foi maravilhosa. Eu me senti muito livre, feliz. Meus pais ainda moram na fazenda. Adoro ir lá nas minhas férias, nos dias de folga.

 

Como foi ajudar Stein a conquistar títulos consecutivos da Libertadores?

 

Foi meu terceiro título da Libertadores. É sempre muito especial vencer a Libertadores porque é uma competição de muito prestígio. Este ano foi ainda mais especial porque o padrão das outras equipes melhorou muito. Isso é ótimo para o esporte. Tivemos uma semifinal muito difícil, na qual recuperamos de desvantagem para vencer (batendo o Always Ready por 5-2). A final, apesar do placar (derrota do Racing por 5 a 0), foi um jogo muito disputado. O que nos ajudou muito foi marcar logo cedo. Fiquei extremamente feliz com o triunfo.

 

Como foi a recepção quando você voltou a Cascavel?

 

Foi muito legal. Nossos apoiadores vieram ao aeroporto para nos cumprimentar. Saímos do aeroporto e fizemos uma procissão, passando por áreas específicas da cidade. Os torcedores nos acompanharam. Estávamos comemorando, pulando para cima e para baixo. Na parada final comemoramos juntos com o troféu.

 

Você foi eleito MVP da Copa Mundo do Futsal e da Libertadores. Você acha que está na melhor forma da sua carreira?

 

Eu não diria isso. Acho que tive um ano muito bom. Concordei que deveria ter sido eleito o melhor jogador da Copa Mundo do Futsal. Também fui eleito o melhor jogador da competição em 2022. Acho que em 2022, 2023 e 2024 tenho jogado muito bem, mas não diria que fui melhor em um ano do que nos outros. Acho que tenho sido consistente. O que eu diria é que estou mais satisfeito com o que fiz este ano porque no início não estava bem psicologicamente, mentalmente. Então, superar isso e jogar no nível que estou tem sido muito especial.

 

É muito perigoso usar a goleira linha quando a Camila está em quadra, né?

 

(risos) Tive a felicidade de marcar um gol de longe na final. Tenho marcado esse tipo de gol. Trabalhamos muito na marcação quando eles utilizam o goleiro voador. Nossos goleiros são muito bons com os pés, então treinamos muito contra o goleiro voador.

 

Você é excelente defensivamente e ofensivamente. Você se considera um dos jogadores mais completos do planeta?

 

Não sei dizer, mas procuro sempre me colocar à disposição do treinador para o que a equipe precisar. Se as equipes precisam de mim na defesa, tento fazer o melhor trabalho possível. Se o time precisar que eu jogue como pivô, farei o meu melhor. Goleiro é a única posição que ainda não joguei! Eu sempre tento dar tudo de mim em qualquer papel que estou desempenhando. Acho que por isso é fácil para mim realizar diversas funções.

 

Por que você veste a camisa número 11?

 

Até o ano passado eu achava que era a primeira camisa que tinha, mas minha mãe me disse que na verdade era a camisa 12. Então não sei dizer por que gosto da camisa 11 (risos). Mas sempre tento usar o número 11 do time em que estou jogando.

 

Como você se sentiu quando a FIFA anunciou a primeira Copa do Mundo de Futsal da FIFA?

 

Uau. Foi um grande momento para mim. Foi de extrema felicidade. Meu coração estava acelerado. É impossível até colocar em palavras. Tantas meninas lutaram por isso por tanto tempo. Quando entrei no futsal, as pessoas já lutavam por isso. Eles lutaram por isso e não vão poder disputar a Copa do Mundo, mas espero que se sintam realizados por isso estar acontecendo graças ao seu esforço. Não sei se serei convocado para ir à Copa do Mundo, mas estou extremamente grato por estar jogando futsal num momento em que teremos a primeira Copa do Mundo. Quer eu consiga ou não, estou muito feliz porque é um grande passo para o esporte. Uma Copa do Mundo da FIFA fará o esporte crescer muito. Todo mundo está muito animado. Quando anunciaram o [país anfitrião], foi outro momento incrível porque você percebe: ‘Isso está realmente acontecendo’. É incrível, mágico.

 

Quantas seleções você acha que têm o que é preciso para vencer a primeira Copa do Mundo?

 

Quando as pessoas falam de futsal [feminino], sempre dizem Brasil, Espanha, Portugal. O Brasil é sempre favorito porque sempre ganhamos tudo, mas acho que são novos tempos. Jogámos no Torneio de Fafe e o Japão impressionou-me muito. Seleções nacionais de todo o mundo estão se reunindo o tempo todo. Eles estão se preparando muito melhor do que antes. O padrão dessas seleções nacionais melhorou dramaticamente. Acho que isso é ótimo para o esporte. É chato ver Brasil ou Espanha goleando adversários. Como jogador, queremos ganhar jogos tendo lutado muito como fizemos contra Portugal em Fafe. Estava 2 a 2 e marcamos nos segundos finais. Esse é o tipo de jogo que as pessoas querem ver. Acredito que será uma Copa do Mundo de altíssima qualidade.

 

 

O que você espera do próximo torneio em Xanxere?

 

Vencemos a última Copa América com uma vitória muito disputada sobre a Argentina. Ganhamos por 2 a 0, mas foi um jogo muito disputado. A Argentina é uma seleção muito forte. Vencemos o Paraguai na Copa América, mas eles tiveram um jogador importante expulso. Não posso falar muito sobre o Marrocos porque não tive oportunidade de vê-los, mas acho que será uma competição de alto nível e uma boa preparação para a Copa do Mundo.

 

Dois colegas jogadores de Stein vão para o torneio com o Brasil. O que você acha de Bianca e Luana?

 

Acho que as duas goleiras que temos no Stein, Bianca e Julia, são as melhores goleiras brasileiras do momento. Bianca foi eleita a melhor goleira do mundo. Ela é excepcional. Posso falar com autoridade sobre Luana porque a conheço desde os 16 anos, em Cianorte. Eu observei seu desenvolvimento e fiquei realmente impressionado. Ela merecia ser convocada pela Seleção. Ela tem muito potencial. Acredito que Luana pode se tornar a melhor jogadora do mundo.

 

Quem você acha que é o melhor jogador do mundo atualmente?

 

Acho que Emilly de Burela.

 

Excluindo os brasileiros?

 

Peque. Gosto muito da Janice também, mas diria Peque.